Reconstrução parcial da mama – Cirurgia Oncoplástica
A cirurgia oncoplástica de mama pode ser definida como a associação de condutas médicas que permitirão o máximo controle locorregional do câncer de mama com a mínima sequela estética.
O conceito surgiu no começo desta década e vem ganhando relevância na mastologia moderna. O objetivo primordial é promover a interação entre as técnicas cirúrgicas oncológicas e plásticas, almejando tratamento de excelência, bom resultado estético nas reconstruções mamárias e qualidade de vida para os pacientes. Suas aplicações estendem-se a todas as modalidades de cirurgia oncológica da mama, desde as conservadoras, até as mais radicais.
A reconstrução mamária nas mastectomias parciais tem como objetivos primordiais a manutenção da forma cônica das mamas, posicionamento central da aréola e papila no ápice do cone mamário. A simetria com a mama oposta pode ser obtida através de uma intervenção cirúrgica (mamoplastia) no lado normal.
Adotamos a simetrização imediata, ou seja, no mesmo ato da reconstrução do quadrante, como conduta padrão. A indicação dependerá da assimetria volumétrica decorrente da ressecação oncológica e obviamente do desejo do paciente.
Em relação à reconstrução do quadrante, a correta aplicação das técnicas cirúrgicas de mamoplastias, visa evitar deformidades como depressões e abaulamentos, bem como desvios do complexo aréolo-papilar (CAP).
É de fundamental importância alterar o mínimo possível a arquitetura estrutural da mama, facilitando tanto a programação da radioterapia complementar como o controle radiológico e clínico do câncer.
O cirurgião oncoplástico tem como princípios a preocupação estética associada aos conceitos oncológicos. Discute-se a necessidade de colocação de um “clip” metálico no leito tumoral objetivando facilitar a programação da radioterapia.
A aplicação de técnica cirúrgica na reconstrução mamária é determinada fundamentalmente pela localização do câncer nos quadrantes. Outros fatores importantes a serem considerados são o tamanho das mamas, extensão da ressecção cutânea e volume do parênquima mamário. Sempre começamos uma reconstrução com a seguinte pergunta: Quais as estruturas anatômicas necessárias para a reconstrução: conteúdo, cobertura cutânea ou ambos?
Em relação ao paciente, avaliamos as dimensões da mama, e a possibilidade de áreas doadoras de tecidos. Com finalidade didática introduzimos o conceito de mama doadora de tecido e mama receptora. As doadoras seriam aquelas em que o volume do quadrante ressecado não interfere no resultado estético da reconstrução, ou seja, mamas médias e grandes com ptoses. Estas constituem as indicações clássicas para mamoplastia redutora ou mastopexia.
A indicação correta da técnica de mamoplastia para reconstrução do quadrante é baseada nos pedículos vasculares dos retalhos que serão transferidos para região do defeito, como regra, o pedículo deve ser oposto à região da ressecção.
No outro grupo, o das pacientes que possuem mamas pequenas, a reconstrução é dificultada pela escassez de tecidos, as chamadas mamas receptoras. Na região torácica anterior existem duas possibilidades de retalho locorregionais, o torácico lateral, utilizado para os quadrantes laterais e o toracoepigástrico para os quadrantes mediais. Retalhos à distância como Latissimus Dorsi ou Reto Abdominal são condutas de exceção.
Não utilizamos implantes na reconstrução dos quadrantes com radioterapia externa, mas consideramos a possibilidade nos casos com radioterapia intraoperatória. Atenção especial deve ser dada as pacientes com mamoplastias redutoras prévias – estas devem ser consideradas como pacientes que possuem mamas pequenas, já que os excessos de pele e tecido glandular foram previamente removidos na cirurgia plástica.
(Texto publicado pelo Dr Marcelo Sampaio na Revista do Curso Intensivo Avançado Câncer de Mama – Hospital Sírio Libanês – Instituto de Ensino e Pesquisa)